Acabou de chegar e quer entender o que é que está acontecendo aqui? Veja o primeiro post da série “Lá embaixo”!
Está acompanhando a série Percepção da Fertilidade e quer saber mais? Os próximos posts estão a caminho! Enquanto isso, recomendo ler esta série aqui, até mesmo porque ela servirá como base pra entender o ciclo menstrual e o método sintotermal de percepção da fertilidade!
Aviso importante: este post tem imagens de anatomia.
Vamos começar?
Que história é essa de que mulher também tem ereção?
Calma. É tudo uma questão de tecido erétil.
Tecido erétil?
Tecido erétil é um tecido biológico composto basicamente por um conjunto de vasos sanguíneos com válvulas que conseguem interromper o fluxo de sangue. Com o acúmulo de sangue, esse tecido infla (como um balão se enchendo de água) e fica firme, quente e sensível.
Igual, mas diferente!
Pois é! A quantidade de tecido erétil em homens e mulheres é basicamente a mesma! O que difere é a forma como esse tecido está distribuído e a forma como as válvulas funcionam.
Nos homens, o tecido erétil forma uma estrutura, o pênis, e as válvulas funcionam de forma coordenada, o que permite manter o pênis ereto e dá impulso para a ejaculação (liberação de esperma). Após a ejaculação, em geral, os homens passam pelo período refratário, que é basicamente um período de tempo em que não é possível ter uma outra ereção e ejaculação.
Já em mulheres, o tecido erétil está distribuído em diferentes estruturas (que veremos a seguir!), e as válvulas não funcionam de forma coordenada. Com isso, mulheres não tem um período refratário, e com isso podem ter mais de uma ereção (e orgasmo) em seguida, sem passar por um período de repouso.
Rede erétil feminina
No excelente livro Women’s Anatomy of Arousal (Anatomia da Excitação da Mulher), a enfermeira obstetra e educadora Sheri Winston descreve a “rede erétil”: o conjunto de estruturas separadas mas interconectadas, compostas de tecido erétil, que fazem parte do sistema sexual e reprodutor feminino.
Clitóris
O clitóris é bem mais que um simples botão!
As partes do clitóris são:
- cabeça (ou glande): visível por fora, coberta total ou parcialmente pelo capuz (ou prepúcio). É extremamente sensível, com cerca de 8.000 terminações nervosas!
- corpo: um tubo de aproximadamente 2 cm de comprimento e o diâmetro de um lápis. É totalmente coberto pelo capuz, mas pode ser sentido por baixo da pele.
- pernas: assim como um alicate, o clitóris possui duas pernas, uma de cada lado da abertura da vagina, internamente aos lábios da vulva. Por serem mais internas, as pernas do clitóris são mais difíceis de sentir ao tocar por fora.
O clitóris é composto de tecido erétil, portanto, com excitação e estimulação (direta ou indireta), ele incha e fica mais sensível.
Bulbos do vestíbulo
Os bulbos do vestíbulo são duas massas de tecido erétil, em formato de gota, uma de cada lado da abertura da vagina, internamente aos lábios da vulva. Lembra que no post anterior eu falei que a pele dos lábios externos não é particularmente sensível? Pois é, mas abaixo dos lábios estão os bulbos!
O topo dos dois bulbos se conecta com o corpo do clitóris. Isso significa que, quando os bulbos são estimulados, o clitóris também é, e vice-versa!
Como os bulbos são formados por tecido erétil, eles incham bastante com excitação e estimulação, e esse inchaço pode ser sentido e visto por fora, por baixo dos lábios da vulva. O inchaço dos bulbos aperta lateralmente a entrada da vagina, fazendo com que ela fique “justa”, o que torna a penetração bem mais agradável pra mulher!
Esponja uretral
Já vimos que uretra é o canal que conecta a bexiga até a parte de fora do corpo, e por onde passa a urina. Agora imagine um rolo de papel higiênico: nessa comparação, o rolo de papelão seria a uretra, e as camadas de papel higiênico seriam a esponja uretral. Se a mulher não está excitada, é como se tivesse só um pouquinho de papel no rolo. Se a mulher está bastante excitada, como a esponja uretral é composta de tecido erétil, ela incha bastante, e é como se o rolo estivesse cheio.
Como a uretra está bem próxima da vagina, quando a mulher está excitada e a esponja uretral está inchada, ela chega a pressionar “o teto” da vagina, o que também torna a penetração mais agradável.
Esponja perineal
Na região entre “o chão” da vagina e o reto, a uns 2 cm de profundidade, fica a esponja perineal, que é uma bolinha de tecido erétil.
Quer ver todas essas estruturas juntas? Aqui tem um desenho mostrando a rede erétil vista de frente (com a mulher deitada) e aqui tem outro desenho mostrando a vista um pouco de lado.
Tá, mulher tem ereção… Mas e daí?
E daí que saber mais sobre o sistema sexual e reprodutor pode ajudar a gente.
Pode ajudar a tirar medos e dúvidas. Pode ajudar a tranquilizar (“Ufa, então isso é normal! Sempre achei que tinha algo errado comigo, porque eu nunca tinha ouvido falar disso!”). E pode ajudar a melhorar a vida sexual!
Menos desconforto e dor, mais prazer
Desconforto e dor durante a relação sexual, e principalmente durante a penetração da vagina pelo pênis, podem acontecer por diversas causas médicas e psicológicas. Não “é assim mesmo”, não “faz parte”, não é “algo que a gente tem aguentar”! É muito importante consultar um profissional de saúde pra investigar a causa da dor e do desconforto!
Mas além das causas médicas e psicológicas, existe uma outra, muito simples, mas que costuma ser ignorada: pouca ou nenhuma excitação!
É a excitação que faz com que todas as estruturas eréteis se ativem, se encham de sangue e fiquem inchadas e sensíveis! Além disso, a excitação aumenta a lubrificação natural da vagina (e, se ainda for necessário, lubrificante extra pode ajudar!). Em uma mulher saudável, quando as estruturas eréteis estão ativadas e a vagina lubrificada, o sexo tende a ser (muito) prazeroso — e não desconfortável ou dolorido!
Então como faz pra ativar a rede erétil?
Não precisa de uma “pílula azul” pra mulheres!
Cada pessoa é diferente, então é importante assumir uma postura de cientista: experimentar e aprender o que funciona e o que não funciona! 😉
Mas, de forma geral, é fundamental garantir a comunicação e o consentimento entre os parceiros, estar segura e relaxada, estimular as diferentes partes do corpo (partes não-erógenas, partes erógenas mas não genitais, e genitais — incluindo as diferentes partes da vulva) ao invés de focar somente na vagina, e ter paciência!
No próximo e último post desta série, vamos ver os órgãos internos do sistema sexual e reprodutor feminino: muito mais que uma fábrica de bebês! Aguarde!
Veja aqui a continuação desta série:
“Lá embaixo”: Parte 4 – Útero, ovários, e cia