A ilusão da escolha

A ilusão da escolha

 

“Você tem que fazer uma escolha”, eles dizem. “Uma escolha entre A e B.”

 

Você quer fazer a melhor escolha, é claro. Então você pergunta como são A e B.

Eles contam mil maravilhas sobre A. Sobre como A é moderno, a última palavra em tecnologia. Prático, rápido, simples. Seguro e confiável. Você tem o controle da situação, e não é ótimo poder controlar tudo?

Eles contam um show de horrores sobre B. Sobre como B é antiquado, primitivo, bárbaro, radical. Trabalhoso, demorado, complicado. Perigoso e arriscado. Você não tem controle de nada, e “ninguém quer correr riscos, não é mesmo”?

 

Talvez mesmo assim você tente persistir e tirar dúvidas… Será que A é tão bom assim? Será que B não tem lá seus benefícios?

Eles desviam do assunto. Reforçam o que já falaram antes. No máximo dizem que, se você quiser muito, e se estiver tudo lindo e perfeito e maravilhoso, “até dá pra tentar” B.

Talvez você concorde com isso.  Mas aí, ao longo do caminho… Alguns deles vão te chamando de louca, xiita, radical, primitiva, inconsequente, teimosa, irresponsável. Outros não dizem nada disso, mas vão apontando um problema aqui e outro lá… “Olha, é muito arriscado fazer B com esses problemas todos.”

Quem sabe você acabe concordando com eles e escolha A.

 

No final das contas, acabou sendo A.

Talvez você tenha ficado satisfeita com A.

Talvez, não. Talvez A não tenha sido toda aquela maravilha que disseram.

Você começa a tirar suas dúvidas com outras pessoas, não mais com eles.

E você descobre algumas verdades dolorosas.

 

Eles contaram os aspectos positivos de A, mas não falaram nada dos aspectos negativos.

Eles contaram os aspectos negativos de B, mas não falaram nada dos aspectos positivos.

 

E mais.

Eles não disseram que, na verdade… As opções vão até Z.

 

Isso foi justo? Isso foi certo? Isso foi uma escolha de verdade?

Não!

Foi só a ilusão da escolha.

 

A “escolha” entre cesárea e parto normal, aqui no Brasil e em outras partes do mundo, não é uma escolha de verdade.

 

Não existe escolha sem informação

Não existe escolha sem informação. E sem apoio pra fazer essa escolha. E sem acesso a todas as opções disponíveis.

 

Mas graças aos esforços de muita gente no movimento pela humanização do parto — principalmente de mulheres: mães, advogadas, doulas, profissionais de saúde, ativistas de diversas origens e formações —, este cenário está, aos poucos e lentamente, começando a mudar.

Um dos itens dessa mudança é que a informação está se espalhando. Em documentários, em páginas e grupos no Facebook, em blogs, em sites, até mesmo em congressos online e gratuitos.

Ainda há um longo caminho pela frente. Mas, com esperança e determinação, chegará o dia em que a verdadeira escolha — informada, apoiada, acessível, livre — estará à disposição de todas as pessoas.