“Aprender de verdade é uma delícia — uma aventura emocionante a terras desconhecidas. É uma oportunidade para desenvolver um novo entendimento e se tornar um mestre, não no sentido de um mestre que subjuga um escravo, mas como uma artesã que se torna uma conhecedora da sua arte.” — Sheri Winston
Este post é a parte 6 da série Percepção da Fertilidade; se você não viu ainda, aqui está a parte 1, que explica o que é a percepção da fertilidade (e porque ela é MUITO interessante)!
Já vimos que o método sintotermal é uma forma de observar, registrar e interpretar os sinais de fertilidade do corpo — sendo os principais o fluido cervical, a temperatura basal, e o colo do útero — pra saber informações importantes sobre o ciclo menstrual — como os dias férteis e inférteis, a data da ovulação, e a data da próxima menstruação —, e que esse método pode ser usado pra engravidar, evitar engravidar, e monitorar a saúde.
Também vimos que, como contraceptivo, o método sintotermal é eficaz quando usado sempre e de forma correta.
Pra conseguir fazer isso, é fundamental conhecer bem o método. Por isso, neste post, veremos como aprender o método sintotermal.
Tinha uma pedra no meio do caminho
Mais de uma, infelizmente.
Não digo isso pra desmotivar ninguém. Mas é importante saber o que há pela frente, então eis aqui os principais desafios pra quem quer aprender o método sintotermal.
Ilustre desconhecido
O método sintotermal tem alguns aspectos em comum com o coletor menstrual: existe há décadas, funciona muito bem quando usado corretamente (exige certos cuidados e um esforço maior no começo, durante a fase de aprendizado), traz autoconhecimento e liberdade incríveis.
Mas se você perguntar sobre eles pra uma pessoa qualquer, ou até mesmo pra muitos dos profissionais de saúde envolvidos na área de ginecologia, infelizmente poucos saberão do que é que você está falando. E se por acaso “souberem”, vão responder que é perigoso, que não funciona, que dá muito trabalho, que é tão mais fácil e prático e seguro usar as outras alternativas “modernas” que nós temos hoje.
Ou seja, além do desconhecimento, existe muita desinformação por aí.
Acontece que o método sintotermal faz parte de um conjunto de métodos contraceptivos chamado métodos baseados na percepção da fertilidade. Esse conjunto inclui vários métodos totalmente diferentes entre si, e um deles é a famosa e pouco eficaz tabelinha. Com isso, muita gente acaba cometendo o erro de achar que todos os métodos baseados na percepção da fertilidade são pouco eficazes, como se fossem todos farinha do mesmo saco (coisa que não são!).
Inglês ou português, eis a questão
Infelizmente, existe pouca informação em português sobre o método sintotermal. Isso inclusive foi um dos motivos que me fez começar este blog!
Já em inglês, o método sintotermal é razoavelmente mais conhecido, e, como veremos abaixo, existem livros e instrutoras capacitadas para ensinar o método.
Se você não entende nada de inglês, uma outra opção seria aprender o método de ovulação Billings. Ele é um pouco menos eficaz mas é bem mais conhecido no Brasil que o método sintotermal!
Haja paciência
Como todo aprendizado, aprender o método sintotermal exige uma boa dose de paciência. Principalmente pra quem quer usar o método como contraceptivo!
Antes de começar a usar o método sintotermal como contraceptivo, ou seja, antes de começar a ter relações sexuais sem nenhum outro contraceptivo durante os dias inférteis do ciclo menstrual, o recomendado é aprender o método e praticar por um período de pelo menos três ciclos menstruais completos, sempre usando um outro contraceptivo não-hormonal durante esse período!
Antes que você se desespere e pense em desistir… Calma.
No meio das pedras tinha um caminho
Sim, nós podemos!
O método [sintotermal] não é diferente de muitas habilidades de vida, como aprender a dirigir um carro. Pode parecer intimidante no começo, até que um pouco de prática traz a confiança que você precisa. […] Pessoalmente, eu ensinei o método [sintotermal] de percepção da fertilidade pra mais de 1.500 clientes e posso garantir que praticamente todas as mulheres podem internalizar o método e o seu fundamento biológico […]. — Toni Weschler, autora do excelente livro Taking Charge of Your Fertility (veja descrição desse livro logo abaixo)
Algumas pessoas aprendem rápido e sozinhas. Outras pessoas aprendem em um pouco mais de tempo e com ajuda. De qualquer forma, aprender o método sintotermal é possível, sim!
As formas mais recomendadas são com livros e aulas.
Livros
Na seção Biblioteca, eu recomendo vários livros e sites sobre diferentes temas, incluindo percepção da fertilidade.
Aqui, vou dar ênfase a dois livros muito aclamados, que são praticamente considerados livros-texto do método sintotermal.
Garden of Fertility (“Jardim da Fertilidade”) também é um ebook e livro (em inglês) sobre percepção da fertilidade. A edição de 2006 tem 320 páginas, e explica o ciclo menstrual; o método sintotermal de percepção da fertilidade; como utilizar o método tanto pra engravidar quanto pra evitar uma gravidez; como usar o método pra monitorar a saúde; estratégias naturais para melhorar a saúde ginecológica, entre outros temas. Ainda não li este livro, mas até onde sei, ele é muito recomendado, e dá um foco maior à parte de monitoramento da saúde e tratamentos naturais do que o Taking Charge of Your Fertility.
Aulas
Sim, existem aulas de método sintotermal (em inglês)!
Essas aulas geralmente seguem duas abordagens diferentes:
- Planejamento Familiar Natural (Natural Family Planning, NFP): nessas aulas, o método sintotermal é ensinado num contexto religioso, geralmente católico. Outros métodos contraceptivos são considerados artificiais e não são aceitos (com poucas exceções, incluindo o método de ovulação Billings). Durante a fase fértil, pra evitar engravidar, recomenda-se abstinência. As aulas são geralmente restritas pra casais heterossexuais que já sejam casados ou que pelo menos estejam noivos. Há uma ênfase nos ensinamentos éticos e morais religiosos.
- Método de Percepção da Fertilidade (Fertility Awareness Method, FAM): nessas aulas, o método sintotermal é ensinado num contexto secular. Outros métodos contraceptivos são aceitos. Durante a fase fértil, pra evitar engravidar, há três possibilidades — praticar abstinência, fazer outras formas de sexo sem contato entre pênis e vulva/vagina e seus fluidos, ou usar métodos contraceptivos não-hormonais. As aulas são geralmente abertas para o público em geral, independentemente de crença, orientação sexual, e estado civil. Há uma ênfase em conhecer o próprio corpo e ter informações para poder tomar suas próprias decisões de forma consciente. Esta é a abordagem que conheço melhor.
Em geral, aulas de FAM são dadas por educadoras qualificadas (fertility awareness educator, FAE, educadora de percepção da fertilidade), que costumam ser profissionais com ensino superior que fazem um treinamento (de dois anos) em fertilidade incluindo conhecimentos sobre anatomia, fisiologia, sexualidade, aspectos psicossociais da reprodução e da sexualidade, aconselhamento, e educação.
Em geral, elas oferecem aulas para indivíduos, casais, e grupos; tanto pessoalmente quanto online. Durante as aulas, além de ensinar o método sintotermal, as educadoras também orientam cada pessoa individualmente, pra ter certeza de que ela está conseguindo observar, registrar e interpretar seus sinais de fertilidade corretamente.
E onde encontrar essas educadoras? Aqui e aqui.
E o aprendizado continua!
Finalmente chegamos ao fim da série Percepção da fertilidade.
Mas, calma, que na verdade toda essa jornada até aqui foi só o começo! O assunto não acabou, não: ainda tem muita coisa pra se falar sobre percepção da fertilidade e método sintotermal. Isso sem contar vários outros temas relacionados à fertilidade feminina, que são igualmente interessantes, mas muitas vezes pouco conhecidos.
É pra isso que este blog existe: pra ajudar a divulgar informações que têm um potencial tão grande de fazer uma diferença positiva na vida das pessoas. =)
E assim a jornada de aprendizado continua. Até o próximo post!
