Acabou de chegar e quer entender o que é que está acontecendo aqui? Veja o primeiro post da série “Lá embaixo”!
Leu o primeiro post da série Percepção da Fertilidade e quer saber mais? Os próximos posts já estão a caminho! Enquanto isso, recomendo ler esta série aqui, até mesmo porque ela servirá como base pra entender o ciclo menstrual e o método sintotermal de percepção da fertilidade!
Neste post, vamos dar nomes aos bois e descrever a vulva, ou seja, os órgãos genitais externos da mulher. Um aviso meio óbvio mas importante: este post terá links para sites com desenhos e fotos de anatomia.
Vamos começar?
V de vulva
Vulva é um termo geral para os órgãos genitais externos femininos.
Muitas pessoas usam a palavra vagina. Por um lado, é interessante repetir e naturalizar a palavra; por outro lado, como veremos daqui a pouco, vagina é outra coisa, e é só um pedacinho dela que (mal) dá pra ver na vulva.
Pra quem se interessa por linguagem, aqui tem uma discussão muito interessante sobre os vários termos usados em português para se referir aos genitais femininos.
De fora pra dentro
No excelente livro Women’s Anatomy of Arousal (Anatomia da Excitação da Mulher), a enfermeira obstetra e educadora Sheri Winston compara a genitália feminina com um terreno com três zonas, de fora para dentro: o jardim, a varanda, e o templo.
Jardim: as partes mais externas, incluindo o monte pubiano e os lábios externos.
Varanda: a transição, incluindo os lábios internos, a cabeça do clitóris, e 3 aberturas (a abertura da uretra, a abertura da vagina, e o ânus).
Templo: as partes mais internas, incluindo a vagina e o reto (que veremos em detalhes em outro post desta série!).
Monte pubiano
Também conhecido como monte de Vênus, é a região de pele e pelos que recobre o osso púbico. O nome monte é porque essa região tende a ser um pouquinho mais elevada, porque está sobre um pequeno (e totalmente saudável!) depósito de gordura. A formação do monte pubiano e o surgimento dos pelos nessa região são sinais de puberdade.
Aliás, os pelos estão ali por um bom motivo, que veremos mais pra frente!
Lábios externos
O nome oficial é grandes lábios, mas faz mais sentido chamar de lábios externos, porque eles de fato são externos, e não necessariamente são grandes!
Grande mesmo é a variação na cor da pele, quantidade de pelos, tamanho e forma dos lábios externos!
A pele dos lábios externos não é particularmente sensível, mas no próximo post desta série veremos que isso é só uma parte da história.
Lábios internos
O nome oficial é pequenos lábios, mas, de novo, faz mais sentido chamar de lábios internos, justamente porque eles são internos e não necessariamente pequenos!
E, de novo, existe uma grande variação nos tamanhos e formas e cores dos lábios internos!
Ao contrário dos lábios externos, os lábios internos não são revestidos por pele comum com pelos, mas sim por uma mucosa, que é um tecido delicado e úmido (parecido com a parte interna da boca).
As próximas estruturas só dá pra ver quando se usa os dedos pra abrir os lábios internos, ou então quando a mulher está excitada (o que leva os lábios a se abrirem naturalmente). Veremos mais detalhes delas no próximos posts, mas por enquanto, aqui vai um resumo rápido de cada uma.
Cabeça do Clitóris
O que dá pra ver de fora é só a pontinha do iceberg; com o clitóris é a mesma coisa! O que dá pra ver é a cabeça (ou glande) e a pele (ou prepúcio) que a cobre parcial ou totalmente.
Abertura da uretra
A uretra é o tubo que transporta a urina desde a bexiga (onde ela fica armazenada temporariamente, até bater aquela vontade e a gente achar um banheiro!) até a parte externa do corpo. O que dá pra ver por fora é só o final, o buraquinho, a abertura da uretra, também chamada de meato. Em geral, é só uma pequena fenda, e não um buraco redondo e aberto.
Abertura da vagina
A vagina é o canal muscular que conecta a vulva, do lado de fora, até o útero, dentro do abdômen. É aqui que entra o pênis durante o sexo com penetração pênis-na-vagina (sim, ficou redundante, mas é que existem outras formas de sexo, então é importante especificar!), é aqui que o médico ginecologista avalia no exame ginecológico, é por aqui que sai o sangue durante a menstruação, e é por aqui que sai o bebê no parto normal/natural. Assim como a abertura da uretra, a abertura da vagina não é um buraco enorme sempre escancarado.
Seguindo de frente para trás, depois da abertura da vagina temos mais duas regiões importantes.
Períneo
O períneo é uma região de pele entre a abertura da vagina e o ânus. O períneo é pouco sensível, mas é resistente e flexível, e tem a habilidade de se esticar para permitir a passagem do bebê durante o parto normal/natural. A episiotomia, o tal “cortinho” (que de “inho” não tem nada!) que é feito supostamente pra ajudar a saída do bebê, comprovadamente mais atrapalha do que ajuda!
Ânus
O ânus é a abertura do reto, a porção final do intestino grosso. Mais detalhes no próximo post!
É isso! Ou melhor, isso é o que dá pra ver por fora!
Falando em ver…
Vamos dar uma olhada nisso tudo?
Pra quem não quer ver uma vulva ao vivo, aqui tem um desenho com setas indicando as partes (os nomes estão em inglês, mas são bem parecidos, dá pra entender).
Pra quem quer ver fotos de vulvas de verdade, tem aqui (com os nomes em português), aqui (em inglês) e aqui (também em inglês).
Igual mas diferente
A estrutura básica da vulva é a mesma, mas as cores, formatos e tamanhos de cada uma das partes variam MUITO de mulher pra mulher, e mesmo pra uma mesma mulher em diferentes fases da vida, do ciclo menstrual, e de excitação.
Pra ajudar as pessoas a entenderem toda essa variação (e evitar dúvidas e angústias como “Oh, céus, será que eu sou normal? Só eu sou assim?”), existem dois projetos de fotografia/educação corporal (em inglês) muito interessantes: Large Labia Project, um projeto de uma ativista australiana que aceita e publica anonimamente fotos de vulvas submetidas por voluntárias, com uma galeria de fotos, depoimentos e informações; e The Labia Library, um site que também tem fotos e informações.
Espelho, espelho meu
Além de ver fotos de outras vulvas, e de entender toda a variação que elas podem ter, mais interessante ainda é… Conhecer a própria vulva!
Isso é fácil pra algumas pessoas, mais ou menos pra outras, e difícil pra outras. Tudo bem. Você não precisa fazer nada que não quiser, e não precisa fazer tudo de uma vez. Mas, se e quando quiser, terá uma excelente oportunidade de se conhecer melhor.
E é muito simples! Com mãos limpas (ou melhor, banho tomado, o que ajuda a relaxar!), num quarto ou banheiro onde você tenha privacidade, você pode ficar sentada, de cócoras, ou semi-deitada, e usar um espelhinho de mão e uma pequena lanterna (ou ficar embaixo de uma luz forte).
Se você preferir e se sentir à vontade, na sua próxima consulta com um médico ginecologista, pode pedir um espelho pra enxergar a vulva e tirar suas dúvidas ali, na hora! Bons profissionais não vão achar estranho ou ruim, pelo contrário, vão gostar de ajudar e ensinar!
Limpeza
Vivemos em uma cultura que enxerga os genitais em geral, e especialmente a vulva, como partes sujas, impuras e indignas. Mas não é bem assim!
Água, sabonete leve, e carinho
Vulva não é piso encardido!
Não precisa passar cinco produtos de limpeza pesada e esfregar como se não houvesse amanhã. A vulva é super delicada. Água e no máximo um sabonete leve bastam.
Nada de ducha e sabonete na vagina! Como veremos mais pra frente nesta série, a vagina é muito esperta: ela se limpa sozinha! Além disso, ducha e sabonete podem alterar o pH da vagina, prejudicando o crescimento das bactérias gente boa que moram lá, e também podem provocar irritação e alergia! Basta limpar por fora.
Ar, por favor!
A vulva também precisa de ar. Calma, não estou falando de todo mundo virar nudista.
Usar calcinhas de tecidos respiráveis, como algodão; evitar roupas apertadas; e evitar o uso constante (o dia inteiro, todos os dias) de protetores de calcinha descartáveis são medidas que evitam o abafamento e deixam a vulva respirar em paz.
De frente pra trás!
Ao limpar com papel higiênico, o correto é movimentar de frente pra trás. Por quê? Cada macaco no seu galho: existe um conjunto de bactérias da vagina e um conjunto de bactérias do intestino (lembrando que o ânus tá ali bem pertinho da abertura da vagina!), e não é legal misturar os dois.
Tá vazando!
Mas não é urina e também não é menstruação… Então que raios é isso?
Pode ser duas coisas: corrimento não-saudável e fluido cervical. Os dois são fluidos que escorrem pela vagina, mas são bem diferentes.
Corrimento não-saudável em geral tem cores fortes como branco, amarelo ou amarelo-esverdeado; vem com sintomas desagradáveis como dor, ardência, irritação, coceira e vermelhidão na vulva; e costuma ter cheiro forte e desagradável. Nesses casos, é importantíssimo procurar um médico! Este corrimento geralmente indica problemas, inclusive doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Falaremos mais sobre fluido cervical aqui no blog, mas por enquanto, basta saber que é um fluido perfeitamente natural e saudável, e que vai variar em quantidade e características ao longo do ciclo menstrual. Fluido cervical costuma ser bege, esbranquiçado ou transparente; NÃO está acompanhado dos sintomas desagradáveis descritos acima; e o cheiro é levemente azedo (mais ou menos como iogurte) mas não é forte.
Pelos
Pelos não são anti-higiênicos! Eles são um sinal de início da maturação sexual, conferem proteção contra o atrito da relação sexual, e retem o odor natural e saudável da vulva.
Dito isso, no final das contas, raspar, depilar, aparar, ou não — a escolha é 100% sua!
Cheiro de… rosas?
Desodorantes e perfumes e lencinhos e outros “produtos íntimos” podem mais atrapalhar do que ajudar, inclusive causando irritação e alergia! O que nos leva ao primeiro ponto: menos é mais, e água e sabonete leve dão conta do serviço.
Já investigamos o lado de fora, agora falta o lado de dentro. No próximo post desta série, vamos ver que, graças a uma série estruturas internas, mulher também tem ereção! Pois é! Fique de olho! 😉
Veja aqui a continuação desta série:
“Lá embaixo”: Parte 3 – Mulher também tem ereção!